Pintura moderna: Galeria Luisa Strina

Apresentação

Sentados à beira da praia, o ponto mais distante que podemos avistar se encontra a três quilômetros; mas basta montar num cavalo para que essa extensão se duplique; ou subir as escadas de um farol para que o horizonte se decida a afastar uns trinta quilômetros de nossos olhos. Alguns me dirão: não é o horizonte que se afasta, é o ponto de vista que muda. E, no entanto, em uma pintura de Magdalena Jitrik, não tenho de alterar meu posicionamento para que o horizonte comece a ir e vir tal qual faz o mar com suas ondas.

Em vários de seus quadros, Jitrik desenha uma linha horizontal, o que envolve uma proposta de espaço; pois, qualquer traço que divida um retângulo, leva à compreensão de dois planos: o vertical, acima, o horizontal, embaixo, ou, em outras palavras, o céu e a terra. Assim, num primeiro olhar, um quadro de Jitrik projeta um espaço, mas basta reparar um pouco para que a perspectiva comece a se movimentar, de modo que aquilo que estava longe fica perto, e aquilo que estava perto, longe. Efeito conseguido através de um jogo entre o fundo e a figura.

Em Vivenda (óleo sobre tela, 2014), isso é claro. Uma espécie de espiral encontra-se à frente de uma linha de horizonte; de início, parece que a figura está sobre o chão, mas logo o olho começa a percorrer a tela, e esse mesmochão avança para a frente, convertendo-se em parede e, consequentemente, posicionando-se no mesmo plano da figura. Há, portanto, uma distorção da perspectiva – que me faz pensar em Volpi –, distorção que consegue modificar o espaço proposto no quadro de forma constante. Nada permanece estático na tela, as verticais se deitam e os planos se levantam, fazendo com que o espectador, sem se movimentar um único centímetro, mude de ponto de vista com relação ao objeto.

Do mesmo modo, nesse quadro, o centro da figura é um volume – denso –, enquanto seu extremo é um plano, uma folha de papel tão fina que abre mão de seu contorno, adotando por limite sua especificidade cromática. Assunto que leva a outra característica de Jitrik, pois, se, de um lado, temos um aguçado jogo com espaço e perspectiva, do outro, é evidente uma paleta reduzida, um emprego limitado da cor, o que tem uma função definitiva na integração dos diferentes elementos, isto é, na articulação entre fundo e figura. De fato, o fundo é uma problemática fundamental em Jitrik, não é à toa que uma exposição de 2007 tivesse por título Fondo de Huelga (Fundo de greve) e, por logo, uma bandeira onde a palavra “Fondo” fazia as vezes de pano, acolhendo sobre a superfície de suas letras a palavra “Huelga”. Tratava-se de um jogo de palavras, mas nem por isso deixava de assinalar um tema plástico, formal, intrínseco na obra desta artista argentina.

Os quadros de Jitrik iniciam-se em esboços. Desenhos sobre papel realizados com um método automatista, o mesmo que Aizenberg tanto empregou, sem modelo ou referentes prévios. Desenhos que saem da livre experimentação com o lápis para depois passar para o pincel. Jitrik retoma, dessa forma, um ofício que seria justamente o ofício do pintor moderno. Daí o nome da mostra – Pintura Moderna –, título que vai do solene ao irônico, pois, se no começo do século XX, a modernidade estava carregada de futuro, de vanguarda, hoje se encontra embebida de passado. De qualquer forma, um passado sempre revolucionário, o que é, em última instância, a outra particularidade de Jitrik. Abstrata ou figurativa, a obra de Magdalena Jitrik sempre faz referência à Revolução, que consiste em saber que o horizonte está onde você decidir colocá-lo: no limite de seu nariz ou a quilômetros dele.

 

Julia Buenaventura

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