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A Galeria Luisa Strina tem o prazer de apresentar Desconhecido para o mundo, de Tonico Lemos Auad, sua quarta individual na galeria. Reunindo um conjunto de obras têxteis de parede e esculturas produzidas com madeira de demolição e dormentes de trem reutilizados, a exposição explora as relações desses materiais com a arquitetura e a paisagem. É central, ainda, na obra de Tonico a noção de “reparo”, abordada tanto por meio dos métodos que emprega na execução das obras em tecido (cerzir, amarrar, desfiar) quanto na escolha da madeira de reuso como matéria-prima das esculturas. Outro importante foco de interesse do artista são as práticas e técnicas artesanais passadas através de gerações, como o bordado e o entalhe em madeira ou pedra; muitas delas à beira da extinção no âmbito da economia global.
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Desconhecido para o mundo
Entre os trabalhos apresentados está Desconhecido para o mundo – escultura que empresta o título à exposição -, formada por quatro vigas de reuso com alturas variadas e posicionadas verticalmente. As peças retêm as marcas do desgaste acumulado em sua vida pregressa e, em algumas delas, o artista adicionou pedaços de linho em tons quentes cuja materialidade contrasta com a solidez da madeira. Além disso, o entalhe sutil realizado pelo artista faz com que esses tocos ora adquiram feições antropomórficas, ora pareçam absolutamente abstratos.
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Na última década, o trabalho com a matéria têxtil tornou-se um dos principais eixos da obra de Tonico. O artista trabalha com uma variedade de técnicas e métodos - incluindo tear manual, tricô, crochê, bordado, entre outros -, misturando pontos feitos à mão e à máquina para criar superfícies híbridas onde se mesclam diferentes tradições e saberes ancestrais. Embora o resgate das práticas artesanais tenha uma importância fundamental em sua pesquisa, a subversão das regras do “bom artesanato” é a essência de seu trabalho. A trama e a urdidura do tecido, com sua organização rígida e ortogonal, são desfeitas e desorganizadas por meio da remoção dos fios e subsequentemente reorganizadas por meio do bordado a fim de criar imagens ou padrões integrados ao tecido original.
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A matéria têxtil aparece também nas cordas confeccionadas pelo artista, utilizadas como material escultórico em sistemas de amarração baseados no shibari, técnica milenar de amarração japonesa originalmente desenvolvida para imobilizar prisioneiros e mais tarde incorporada à cultura do bondage.
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As obras têxteis de parede apresentadas na exposição são em sua maioria executadas em ponto tunisiano, uma forma híbrida entre o tricô e o crochê, e incluem uma variedade de tipos de lãs e linhas que se mesclam nas composições. Nesses trabalhos, Tonico explora uma extensa gama de variações tonais que se tornam visíveis apenas quando os diferentes tipos de linha são colocados lado a lado em imagens semi-abstratas que evocam paisagens noturnas. Além disso, as molduras dessas obras, feitas em madeira roxinho, se tornam parte integral da composição, adicionando mais uma camada de contraste e enquadramento. Reforçam, ainda, que o papel da madeira na prática de Tonico não é nunca de neutralidade.
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Em Desconhecido para o mundo, Tonico Lemos Auad dá continuidade a uma pesquisa longa e consistente com o tecido e a madeira, produzindo obras nas quais predominam ideias relativas aos saberes artesanais em contrapartida à produção massificada de bens de consumo e ao elogio do reuso e do reparo em oposição à noção de obsolescência programada. Em última instância, são trabalhos que propõem uma temporalidade estendida que vai contra o modelo econômico do capitalismo avançado, apontando, ao contrário, para as dimensões ambientais e psíquicas da cura através do restauro e do reaproveitamento de recursos que encontramos à nossa volta.
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Tonico Lemos Auad
Tonico Lemos Auad nasceu em Belém, em 1968 e vive e trabalha em Londres. Em seu trabalho, Tonico explora o significado pessoal e cultural dos objetos e materiais, muitas vezes referenciando as tradições populares e a paisagem do Brasil e do Reino Unido. As metodologias empregadas em suas obras têxteis e em madeira incorporam uma variedade de técnicas artesanais, as quais conferem uma temporalidade estendida ao trabalho ao mesmo tempo em que propõem modos de produção alternativos ao modelo de hiperprodução e obsolescência programada do capitalismo avançado.
Exposições individuais recentes incluem: Stephen Friedman Gallery (2018); Biblioteca, CRG Gallery, Nova York, EUA (2016); De La Warr Pavilion, Bexhill, Inglaterra (2016); O que não tem conserto, Pivô, São Paulo, Brasil (2015); Paisagem Noturna, Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brasil (2013); Figa, CRG Gallery, Nova York (2012); Stephen Friedman Gallery, Londres, Inglaterra (2012); ‘Carrancas and Reflected Archaeology’ (comissão), The Folkestone Triennial, Inglaterra (2011); Sleep Walkers, Centro Cultural São Paulo, Brasil (2011).
Exposições coletivas recentes incluem: Bienal de Sharjah (2017) Soft Power. Arte Brasil., Kunsthal KAdE, Amersfoort, Holanda (2016); What separates us, Brazilian Embassy, Londres, Inglaterra (2016); Warp and woof, The Hole, Nova York, EUA (2014); Labour and Wait, Santa Barbara Museum of Art, EUA (2013); Textiles Open Letter, Städtisches Museum Abteiberg, Mönchengladbach, Alemanha (2013); Site: Place of Memories, Spaces with Potential, Hiroshima City Museum of Contemporary Art, Japão (2013); Além da Vanguarda - Brazilian Naïfs Biennial, SESC Piracicaba, Brasil (2012); Flag Art Foundation, Nova York, EUA (2010); Henry Moore Institute, Leeds, Inglaterra (2010).
Coleções das quais seu trabalho faz parte incluem: British Friends of the Arts Museums of Israel, Jerusalém, Israel; Herbert F. Johnson Museum of Art, Nova York, EUA; The Museum of Contemporary Art San Diego, EUA; The West Collection, EUA; Zabludowicz Collection, Londores, Inglaterra; CACI Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Brumadinho, Brasil.
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A Galeria Luisa Strina tem o prazer de apresentar Desconhecido para o mundo, de Tonico Lemos Auad, sua quarta individual na galeria. Reunindo um conjunto de obras têxteis de parede e esculturas produzidas com madeira de demolição e dormentes de trem reutilizados, a exposição explora as relações desses materiais com a arquitetura e a paisagem. É central, ainda, na obra de Tonico a noção de “reparo”, abordada tanto por meio dos métodos que emprega na execução das obras em tecido (cerzir, amarrar, desfiar) quanto na escolha da madeira de reuso como matéria-prima das esculturas. Outro importante foco de interesse do artista são as práticas e técnicas artesanais passadas através de gerações, como o bordado e o entalhe em madeira ou pedra; muitas delas à beira da extinção no âmbito da economia global.
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Na última década, o trabalho com a matéria têxtil tornou-se um dos principais eixos da obra de Tonico. O artista trabalha com uma variedade de técnicas e métodos - incluindo tear manual, tricô, crochê, bordado, entre outros -, misturando pontos feitos à mão e à máquina para criar superfícies híbridas onde se mesclam diferentes tradições e saberes ancestrais. Embora o resgate das práticas artesanais tenha uma importância fundamental em sua pesquisa, a subversão das regras do “bom artesanato” é a essência de seu trabalho. A trama e a urdidura do tecido, com sua organização rígida e ortogonal, são desfeitas e desorganizadas por meio da remoção dos fios e subsequentemente reorganizadas por meio do bordado a fim de criar imagens ou padrões integrados ao tecido original.
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A matéria têxtil aparece também nas cordas confeccionadas pelo artista, utilizadas como material escultórico em sistemas de amarração baseados no shibari, técnica milenar de amarração japonesa originalmente desenvolvida para imobilizar prisioneiros e mais tarde incorporada à cultura do bondage.
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As obras têxteis de parede apresentadas na exposição são em sua maioria executadas em ponto tunisiano, uma forma híbrida entre o tricô e o crochê, e incluem uma variedade de tipos de lãs e linhas que se mesclam nas composições. Nesses trabalhos, Tonico explora uma extensa gama de variações tonais que se tornam visíveis apenas quando os diferentes tipos de linha são colocados lado a lado em imagens semi-abstratas que evocam paisagens noturnas. Além disso, as molduras dessas obras, feitas em madeira roxinho, se tornam parte integral da composição, adicionando mais uma camada de contraste e enquadramento. Reforçam, ainda, que o papel da madeira na prática de Tonico não é nunca de neutralidade.
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Em Desconhecido para o mundo, Tonico Lemos Auad dá continuidade a uma pesquisa longa e consistente com o tecido e a madeira, produzindo obras nas quais predominam ideias relativas aos saberes artesanais em contrapartida à produção massificada de bens de consumo e ao elogio do reuso e do reparo em oposição à noção de obsolescência programada. Em última instância, são trabalhos que propõem uma temporalidade estendida que vai contra o modelo econômico do capitalismo avançado, apontando, ao contrário, para as dimensões ambientais e psíquicas da cura através do restauro e do reaproveitamento de recursos que encontramos à nossa volta.
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